terça-feira, 26 de julho de 2011

História para a vida.

     Há uma evidente distinção entre a História como disciplina científica, em que investigação do historiador determina os pontos que provocarão a assimilaridade coletiva e a História para a vida, em que interessa fundamentalmente a sua aplicabilidade cotidiana. A segunda possibilidade instiga o ser humano a transformar os saberes em elementos essenciais e facilitadores para a vivência e sobrevivência. O individuo, ao fazer esta apropriação contribue direta e indiretamente para a construção do mundo desejável. Então o passado deixa de ser o principal objetivo da pesquisa histórica e passa a dividir a atenção também com o presente e o futuro, sendo este último o foco do que se pretende alcançar. Deste modo, nosso trabalho parte do pressuposto que a interpretação da História deve ser efetivada levando em consideração tanto o ângulo material como o mental que antes de se oporem se complementam, como justifica Ciro Flamarion Cardoso.
     “De modo didático, o dilema envolvido pode ser definido como uma alternativa entre: abordar o social: privilegiando o ângulo material e das ações que os homens efetivamente realizam; ou fazê-lo dando maior importância ao ângulo mental. Ninguém nega o caráter inseparável do material e do mental. Nenhuma ação individual ou coletiva poderia exercer-se sem estar referida ao mesmo tempo a um projeto, ou a uma ideologia, ou a um mito, etc., que tenha curso na sociedade de que se trate”.
     Considerado então a singular ligação entre uma interpretação focada tanto no universo material como no mental é preciso estar atendo a uma outra situação, para que o trabalho que ora ensejamos, possa atingir os objetivos previamente estipulados: é preciso eliminar a “interpretação extremada dos saberes” – ou seja, isto em oposição a aquilo, onde corriqueiramente nos deixamos levar por esta ou aquela afirmativa teórica dos acontecimentos conforme inegavelmente necessitamos. Se uma interpretação extremada de fato ocorrer correremos um sério risco de nos perdermos em um longo debate epistemológico onde a essência que nos cabe expor se perdirá num vazio titânico.

USO DA HISTÓRIA-DISCIPLINA

Na prática docente, os valores tendem a serem justificados pelas inesgotáveis modalidades de ciências, embora, mesmo admitindo que a profusão delas não acompanha as reais necessidades humanas e aceitando este limitado alcance, somos impelidos a justificar o mundo conforme o seu amparo.
Podemos então perceber que a “história-disciplina” não passa de “ficções arbitrárias e passageiras, articuladoras de interesses que não são universais”. Transcender, na hipótese de que tal conceito exposto não precisa ser necessariamente eliminado (isto em oposição a aquilo) – e aí evitaríamos a facilidade dos “extremos”, nos faria repensar a prática docente em que todo esforço estaria, de fato, voltado para contribuir para a formação do individuo, a partir de suas necessidades e expectativas. Os saberes históricos seriam, por fim, destinados à aplicabilidade cotidiana, e neste caso nos pautaremos na essência dimensional da existência inteligível – passado, presente e futuro, para então ensejar uma viagem repleta de medo e expectativas, porém indispensável.

O PASSADO

Nesta caminhada surge o primeiro embate: quando associamos a história como disciplina à soberania da dimensão “passado” em oposição ao presente e ao futuro. Se cabe ao historiador, profissional ou não, fazer “um discurso mutável e problemático – ostensivamente a respeito de um aspecto do mundo, o passado” , cabe ao mundo desvelar estes saberes, não apenas para uso teórico, mas, fundamentalmente, para lhe permitir usufruir de benefícios necessários em um dado momento.
Estes saberes apropriados alimentam agora um novo conflito: entre o hoje e o amanhã, pois “não importa quão sofisticado ou rudimentar, nenhum agrupamento humano sobreviverá por muito tempo se não for capaz de transferir uma quantidade mínima de recursos do presente para o futuro”. Nesta perspectiva o “passado” cede lugar ao que pode ser considerado como elementos “favoráveis” à sobrevivência humana – o presente, compreendido como o agora; e o futuro, o amanhã desejável. A seleção natural proposta por Darwin estaria perfeitamente justificada: o passado é eliminado, pois no momento é “nocivo” – interessa-nos sobreviver, não nos resta muito tempo, é preciso escolher entre o hoje – aquilo que esta ao nosso alcance, e o amanhã - algo que poderá ser realizado ou não.
Por não poder mais sofrer interferência, o passado é facilmente abandonado, em detrimento de algo que pode ser moldado conforme o desejo. Talvez se explique aí a facilidade com que as comunidades (grupos culturalmente identificados) nega e facilmente abandona valores construídos durantes um longo período diante daquilo que para eles é considerado novo. Neste caso “o conflito entre as demandas do presente vivido e as exigências do futuro sonhado é um traço permanente da condição humana”, o que provoca uma repulsa ao que pode ser classificado como velho.
Envolvido entre o presente e o futuro, o individuo e sua comunidade postam-se diante de um novo desafio: afinal, decidir entre o hoje e o amanhã requer domínio de si mesmo e do mundo a sua volta. Deparamos com um fosso profundo que separa as sociedades cultural, econômica e tecnologicamente mais complexas daquelas em estágio rudimentar ou simplório, pois “não existe para o grupo atrasado a possibilidade de escolher o que deseja adotar (de grupos mais evoluídos) e, menos ainda, condições de produzir por si próprio o que adote”. Neste caso, a dificuldade de produzir uma identidade próxima da suas necessidades esbarra na constante falta de conhecimento e interpretação do seu passado o que dificulta uma compreensão do presente e uma tomada de decisão mais segura entre o agora e o depois. “Somos todos construídos de peças e pedaços juntados de maneira casual e diversa”, observou Montaigne. Então para fazer uma viagem, não confortável e segura mas insitativa, entre o agora e o futuro desejado, precisamos primeiramente juntar os cacos e lhe dar significados, afinal “apostas terão de ser feitas: resguardar-se de todo o risco e jamais apostar é talvez a pior aposta possível”.

ENTRE O PRESENTE E O FUTURO

Se saimos das cavernas e estamos mais próximos do céu, não podemos negar que o “futuro desejado” sempre ocupou um espaço privilegiado no universo humano. “O desejo insita a ação”. Olhamos para o passado com o objetivo de interferir no futuro, de lhe dar forma. Vejamos o que observou Adam Schaff a este respeito: "o futuro não é um destino determinado pelo desenvolvimento da tecnologia, mas obra do homem", obra esta que se faz sempre voltada para alcançar algo de que não dispomos no momento, “aquilo de que os homens carecem é o que eles mais desejam”. Portanto, o propósito da “história para a vida” é focar no futuro – a única dimensão que sofre interferência consciente da vontade humana. “Se nos situarmos nesse mundo e nessa história, mais facilidade temos de compreender o presente. E compreendendo-o, devemos buscar a mudança daquilo que pode ser mudado”.

O CURRICULO

Dado que o futuro interessa significativamente a história para a vida e que estamos nos situando no mundo docente/discente é necessário, sem buscar uma conceituação meramente técnica, mas seguramente prática, tratar da questão do enfoque curricular. Não é o conteúdo, propriamente dito (os saberes sistematizados e os que são construídos a cada instante), que nos interessa agora, mas abordar uma antiga prática apoiada, sobretudo, no modelo curricular da escola pública dos Estados Unidos desenvolvido para levar os imigrantes e as camadas mais pobres daquele país, a absorverem a dita “cultura norte-americana”, onde em sua essência expressa a seguinte linha: “eu penso, planejo, determino o que vocês precisam, e vocês não precisam pensar, apenas executar”. Conscientemente ou não, reproduz-se no Brasil, principalmente nas escolas públicas, metodologia semelhante. O trágico é que o que é produzido lá fora, sobretudo nos países mais avançados, via de regra, tem valor maior que aquilo que nós conseguimos produzir aqui. Esta limitação imposta pela expressão “conseguimos produzir” baseia-se no sistema desenvolvido por Darcy Ribeiro que considera como “fatores fundamentais de mudança cultural (...) a criatividade através de invenções e descobertas” e “a difusão através de contatos entre povos e a inovação através de movimentos sociais revolucionários”. A intensa submissão cultural, ao qual foi e é vítima o povo brasileiro, deste os primórdios, tem provocado seqüelas profundas em nossa sociedade, desestimulando a necessária reinvenção a partir daquilo que consideramos necessário, levando-nos a experimentar um sentimento de inferioridade diante dos outros povos, o que é visível entre regiões do próprio Brasil e daqui em relação a outros países. “Vosso mau amor de vós mesmo vos faz do isolamento um cativeiro”.


VIAGEM PELA HISTÓRIA

Para que este futuro, que ora se constrói, possa atender as reais necessidades do individuo é preciso que ele reaprenda andar; traçar o seu próprio roteiro. Propomos que a história como disciplina didática não seja mais imposta de fora para dentro. O saber universal, sistematizado ou não, é essencial ao desenvolvimento humano, porém a trajetória desta apropriação deve ter início no individuo, a partir de suas necessidades, interpretações e expectativas. Necessário se faz estimular a aprendizagem significativa “que possibilita ao aluno relacionar com sentido o conteúdo a ser aprendido com o que ele já domina”.
O papel do educador não é apenas transmitir informações e mediar à aprendizagem, mas sobretudo estimular o aluno a se apropriar conscientemente de sua própria história; ele como principal agente do mundo que ora se cria.
A partir daí é preciso sistematizar as dimensões seguintes desta viagem conforme o caminho que deseja ser trilhado. Por exemplo: a história micro-regional; do grupo racial ao qual esta inserido; de seu estado; de seu país; e qualquer outra que tenha valor e significado naquele dado momento, objetivando sempre alcançar os saberes universal.

TEORIA DA CONFORMIDADE

Por este caminho haverá segurança para moldar o futuro desejado, como podemos justificar pela “teoria da conformidade” . Neste caso, o que se conforma é fruto da gerência direta de nossas vontades e das ações deflagradas a partir dela. Em síntese, a interferência humana nos diferentes aspectos da vida cotidiana leva a configuração de uma realidade que, conscientemente ou não, é construída a partir da vontade do individuo e da coletividade. Afinal “as formas superiores da sociedade devem ser como um contorno congênito a ela e dela inseparável” e que “emergem continuamente de suas necessidades específicas”. Assim, o Ser desenvolve o domínio necessário para construir, desconstruir e reconstruir o seu mundo.

Resumido e Adaptado de: Paulo Robério Ferreira Silva - HISTORIA PARA A VIDA: SABERES QUE NECESSITAMOS

3ª Olimpíada Nacional em História do Brasil recebe inscrições

O Museu Exploratório de Ciências - UNICAMP recebe até 9 de agosto, em sua página na internet, as inscrições para a 3ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB). Composta por cinco fases online e uma presencial, a competição envolve professores e alunos na resolução dos problemas propostos, com o objetivo de estimular o conhecimento e o estudo, despertando talentos e aptidões. A primeira fase da competição começa dia 15 de agosto. A fase presencial acontece no dias 15 e 16 de outubro, na Universidade Estadual de Campinas.
          Podem participar estudantes regularmente matriculados no 8º e 9º anos do ensino fundamental e demais séries do ensino médio, de escolas públicas e privadas de todo o Brasil. Para orientar a equipe, composta por três estudantes, é obrigatória a participação de um professor de história. A taxa de inscrição é de 20 reais para equipes de escolas públicas e 40 para equipes de escolas particulares.
            Como nas edições anteriores, o Museu custeará com o apoio do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e da empresa Azul Linhas Aéreas Brasileiras, a vinda de uma equipe de cada estado brasileiro para participar da fase presencial. Após a final da Olimpíada, os professores responsáveis por essas equipes permanecerão na Unicamp para realizar capacitação de uma semana.
           A ONHB premiará escolas, alunos e professores, com medalhas de ouro, prata e bronze e certificados de participação. A escola receberá doação de livros para o acervo da biblioteca e a assinatura da Revista de História da Biblioteca Nacional por um ano.
     A Olimpíada Nacional em História do Brasil é uma realização do Museu Exploratório de Ciências – UNICAMP, concebida e elaborada por historiadores e professores de história do MC e da universidade. Como proposta, os participantes têm a oportunidade de trabalhar com temas fundamentais da história nacional e de conhecer de perto as práticas e metodologias utilizadas pelos historiadores.
    O evento é patrocinado pelo CNPq e conta com o apoio da Revista de História da Biblioteca Nacional, da Azul Linhas Aéreas Brasileira e da TV Globo.
    A 1ª Olimpíada, realizada em 2009, inscreveu mais de 16 mil participantes e reuniu cerca de duas mil pessoas na final presencial realizada na Unicamp, nos dias 12 e 13 de dezembro. No ano passado, a 2ª edição cresceu exponencialmente, tendo grande alcance nacional com mais de 43 mil participantes. A estimativa dos organizadores para 2011 é triplicar a quantidade de participantes.


Inscrições para a 3ª ONHB terminam dia 9

    Restando 15 dias para o fim do período de inscrições, a 3ª Olimpíada Nacional em História do Brasil (ONHB) já tem confirmado mais de 12 mil participantes. Organizada pelo Museu Exploratório de Ciências – UNICAMP (MC), a competição envolve professores e estudantes na resolução dos problemas.      Interessados em participar devem realizar a inscrição na página do evento. Equipes de escolas públicas pagam 20 reais e de escolas particulares, 40.
   Inscreva seus alunos e participe!!

Professores de São Roque em Ação no Ar!

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